Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui pra adiante vai ser diferente
[...]
Compartilho da visão do poeta brasileiro, para mim, essa esperança é volátil demais para ser creditada na conta de um futuro melhor. Em contrapartida, assim como, na minha perspectiva, Lewis provê a melhor definição de "alegria" (Joy), John Eldredge o faz com a "esperança" (Hope).
Lembro-me, há dez anos atrás, quando comecei a questionar como seria o fim da vida. Impossível não se encantar com a mitologia nórdica, a árvore da vida, ou sentir medo do discurso científico, taxativo, que afirma: o sol se extinguirá. De uma forma ou de outra, todos concordamos, nos versos de Vinícius de Moraes: Para isso fomos feitos: / Para lembrar e ser lembrados / Para chorar e fazer chorar / Para enterrar os nossos mortos – / Por isso temos braços longos para os adeuses / Mãos para colher o que foi dado / Dedos para cavar a terra.
E, foi, mais uma menos nessa época, que tive minha primeira desilusão teológica: "Por que nos preocuparíamos com o fim de tudo? Estaremos com Cristo, ora essa." No fundo, eu gostaria de partilhar dessa visão sobre-humana, viver feliz na cômoda ignorância, mas, algo me impelia a uma esperança concreta, tangível, onde, ali, eu poderia depositar a minha fé, na mais pura essência de ser a esperança das coisas que não se vê.
Encontrei acalento na leitura do livro "All things new" (ainda não traduzido ao português).
Primeiramente, gosto do estilo de escrita desse autor, longe de jargões de teologia, há emoção e humanidade em sua escrita. Segundo o próprio autor, a recente perda de seu melhor amigo, o aborto espontâneo do primeiro neto, o suicídio de um membro da família estendida foram mote para a reflexão e, posteriori, escrita da obra. No desnudamento da vida particular e na interpretação da conjectura do século XXI, com os altos índices de suicídio e depressão, o questionamento de abertura do livro é: Qual é a maior fonte de esperança da sua vida atualmente?
Escapismo não é a resposta. Afinal, tudo o que amamos profundamente, as pessoas, lugares e memórias não poderiam simplesmente ser deletadas do nosso ser. Nosso coração arde por redenção e restauração. E foi exatamente isso que Jesus prometeu:
Jesus lhes disse: "Digo-lhes a verdade: Por ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. Mateus 19:28
A promessa aqui não é um arrebatamento + alienação desse mundo, mas a restauração de todas as coisas, incluindo o planeta que nós amamos, cada parte preciosa dele, e a sua própria história.
Aquele que estava assentado no trono disse: "Estou fazendo nova todas as coisas!" Apocalipse 21:5
Restauração, não aniquilação. A palavra para regeneração/restauração do grego é palingenesia, com duas raízes: paling que significa "novamente" e genesia, "início". Gênesis. O Éden restaurado. É como se, desde de sempre, nosso ser aspirasse por completude, por perfeição, num mundo em que mesmo o mais belo pôr-do-sol ou o momento mais feliz são vislumbres de algo maior.
A espera faz, então, sentido. Não poderia haver um apagamento. Meu coração anseia por esse mesmo pôr-do-sol em sua forma plena, restaurada, por essa alegria completa e não mais abalável. Quando foi que a maior e mais bela promessa do Cristianismo se perdeu meio a discursos formalistas? Há uma preocupação alienante de separar o sacro (santo) do profano (mundano). A promessa bíblica, contudo, deixa claro que não somos nós que "subimos aos céus", mas é o paraíso instaurado na terra.
"Quando o Reino vier, meu querido amigo de coração partido, nada do que foi precioso para você nessa vida será perdido. Nenhuma memória, nenhum evento, nenhuma parte da sua história ou de outros, nada estará perdido. Como poderia ser apagado? Tudo está seguro no coração de um Deus infinito, que circunda todas as coisas. Seguro fora do tempo nos tesouros do reino, que transcende as honras de todo o tempo. E será dado de volta a você na restauração, como todos a quem um dia você disse adeus. Nada está perdido." (Eldredge, 2016, p. 58 - minha tradução).
Com os olhos fitos na eternidade, temos na história de sofrimentos dos mártires cristãos, como Pedro (crucificado de cabeça para baixo) ou nos relatos de Paulo, a mais evidente esperança. C.S Lewis escreve "Foi quando os cristãos deixaram de pensar no outro mundo que se tornaram tão incompetentes neste aqui". Trata-se, aqui, de uma área crucial da fé (esperança) cristã. Uma leitura acolhedora e envolvente de esperança.